25 de outubro de 2014

Beethoven era negro?

Beethoven aos 30 anos
(gravura de J. J. Neidl a partir de um
desenho, hoje perdido, de G. E. Stainhauser)
Depois de muito tempo, volto ao DLQS pra escrever sobre mais um dos mitos que se propagam no universo da música erudita, e mais um que diz respeito a Beethoven. Fui hoje chamado a opinar numa postagem do Facebook que trata do assunto, e depois de responder brevemente lá penso que essa lenda mereça uma desconstrução informal um pouco mais longa. 


***

Não foi a primeira vez que deparei com essa afirmação de que o compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) foi, na verdade, negro. Mesmo no Facebook já tinha esbarrado no texto que li hoje, mas nem tinha me incomodado em ler, justamente porque já ouvi falar disso outras vezes. Hoje, porém, resolvi ler e gastar um tempo maior pesquisando um pouco sobre o assunto, e refutando essa ideia sem fundamento. 


Para o bem da informação, transcreverei abaixo o texto que circula pelo Facebook e por outros sites na internet. Esse texto encontrei NESTA postagem:

Beethoven era negro. 
Mas acho que todos vamos continuar a representá-lo super caucasiano, né? 
O nome disso é whitewash, quando alguém não-branco é "embranquecido" pela História, especialmente quando tal figura é importante ou soberana. Mas isso a gente também vê no cinema, que embranquece personagens o tempo todo. 
"Frederick Hertz, German anthropologist, used these terms to describe him: ‘Negroid traits, dark skin, flat, thick nose.’Emil Ludwig, in his book ‘Beethoven,’ says: ‘His face reveals no trace of the German. He was so dark that people dubbed him Spagnol [dark-skinned].’Fanny Giannatasio del Rio, in her book ‘An Unrequited Love: An Episode in the Life of Beethoven,’ wrote ‘His somewhat flat broad nose and rather wide mouth, his small piercing eyes and swarthy [dark] complexion, pockmarked into the bargain, gave him a strong resemblance to a mulatto.’ 
Minha tradução livre: 
O antropólogo alemão Frederick Hertz usou os seguintes termos para descrevê-lo: "traços negróides, pele escura, nariz chato e grosso". Emil Ludwig, em seu libro "Beethoven", diz: "Seu rosto não revela nenhum traço alemão. Ele era tão escuro que as pessoas achavam que ele era espanhol moreno."Fanny Giannastasio del Rio, em seu livro "Um Episódio na Vida de Beethoven", escreveu "Seu nariz largo e sua boca bem grande, seus pequenos e penetrantes olhos e sua compleição morena, dava a ele uma forte semelhança a um mulato"
As imagens são da máscara mortuária do compositor. 
O whitewash de Beethoven: http://ow.ly/Dbq1dWhitewash da História egípcia: http://ow.ly/Dbqbc(Ambos em inglês)



Primeiramente, já um claro erro: essas imagens acima, que acompanham a postagem, não são da máscara mortuária de Beethoven, mas sim de uma máscara que foi tirada do compositor vivo, em 1812. Observa-se que seu rosto, na máscara mortuária, está bem mais magro e marcado:





Claro que a máscara errada não faz parte da argumentação errada, mas considerei importante apontar o erro. Voltando ao texto, como facilmente se observa, a base da argumentação consiste unicamente em relatos de contemporâneos sobre as características físicas de Beethoven, especialmente no que se refere à cor da pele, ao nariz largo e à boca grande. Tudo isso é verídico, e nada é novidade. Por esses relatos e por alguns retratos menos estilizados da época sabemos que Beethoven tinha sim um visual diferenciado da média de seus conterrâneos, e mesmo impactante, especialmente por nascer e viver em um ambiente pronunciadamente caucasiano. Seu porte atarracado e robusto, a pele morena, traços marcantes e cabelo desgrenhado causavam espanto e despertavam o imaginário dos contemporâneos, especialmente porque junto com isso tudo aparecia uma personalidade forte, mais ainda depois da virada do século, quando começou a evoluir seu problema de audição. As comparações que faziam de Beethoven a mouros e espanhóis eram comuns, tanto que o prédio onde ficava seu último apartamento, no qual ele morreu, ficou conhecido como Schwarzspanierhaus ou A casa do espanhol negro, e pelo que consta foi demolido em 1903. Abaixo uma foto da construção, e a mesma representada numa tela de Franz Stöber, que retrata o cortejo fúnebre de Beethoven:


Schwarzspanierhaus, foto da década de 1870

Cortejo fúnebre de Beethoven, tela de F. Stöber

A ideia de que Beethoven fosse negro sempre me pareceu bastante absurda por si mesma, simplesmente pelo fato de contrariar toda a historiografia do compositor. Por isso nunca dei maior importância pra ela, até hoje, quando uma ex-aluna pediu minha opinião sobre o post que compartilhei acima. Então decidi fazer uma breve pesquisa. 

Não foi necessário muito esforço de minha parte para encontrar o artigo "Black Beethoven and the Racial Politics of Music History" de Nicholas T. Rinehart (Transition, Issue 112, 2013, p. 117-130). Um artigo não muito breve, em inglês, mas fiz questão de lê-lo. E recomendo muito pra quem se interessar, pois ele faz um histórico sobre essa questão, mostra os principais autores que já fizeram estudos sérios sobre isso e, inclusive, menciona esse texto que incluí no começo da postagem - o qual já circula na internet há tempos -, e o refuta de várias maneiras. O resumo do artigo é: a ideia da negritude de Beethoven não é de hoje (na verdade já tem perto de um século), já foi abordada diversas vezes, mas nunca apresentada com qualquer tipo de evidência que comprovasse a tese, sempre baseando-se unicamente nos relatos dos contemporâneos sobre sua aparência morena e nos traços não-germânicos do compositor. Ou seja, uma "forçação de barra". 

O artigo explica que esse assunto, apesar de antigo, nunca esteve presente nos debates sérios sobre Beethoven. Claro, afinal não passa de uma espécie de boato, sem qualquer substanciamento. O curioso é constatar o quanto esses boatos - que se transformam em lendas e mitos - ganham força por conta de seu apelo para o incomum, o desconhecido, o poético etc. Esse e outros tantos mitos circulam por aí como vírus, e facilmente infectam os desavisados. As pessoas tendem a acreditar, realmente, em tudo o que está escrito, e mais ainda em tudo o que soa apelativo. 

A explicação da "morenice" de Beethoven, segundo Rinehart, se deve ao fato de seus antepassados, por parte de mãe, terem raízes na região de Flandres, a qual esteve sob algum tempo sob o comando da monarquia espanhola, e daí a conexão dos espanhóis com os mouros do norte da África provavelmente fomentou alguma relação pessoal de algum antepassado de Ludwig com algum mouro, ou espanhol (?), e esses genes caminharam na família até chegar a ele. E sabemos que os genes são misteriosos, algumas pessoas herdam características de antepassados mais distantes às vezes, nem tudo é linear quando se trata de genética. Essa é uma explicação plausível, e a única que faz sentido e pode explicar as características físicas de Beethoven.

Sobre esse assunto todo fiquei ainda pensando: se Beethoven fosse realmente negro algum de seus pais deveria ser claramente negro, não? E seus irmãos, não deveriam apresentar características semelhantes? Ou estaríamos supondo também que Beethoven foi adotado? Se nada disso for considerado, vem a teoria da "lavagem branca" (whitewash) mencionada no post acima. A gente sabe que isso acontece mesmo, em algum grau, mas haveria motivos para fazer uma whitewash nos retratos dos pais de Beethoven antes mesmo de saberem que um filho deles seria tão proeminente? Essa "lavagem" não é destinada só a grandes nomes? Ou foi posterior à vida de Beethoven o branqueamento dos retratos de seus parentes, para legar à história uma iconografia bem... "lavada" ou "branqueada"? Tantos questionamentos para mostrar que quando levamos uma coisa sem sentido pra frente com indagações tudo vai ficando cada vez mais absurdo, e cada vez mais parecendo uma boa teoria da conspiração. Alguns retratos de parentes de Beethoven abaixo (na sequência: o avô, o pai, a mãe, o irmão e o sobrinho). Tire suas próprias conclusões:








Nenhum deles me parece ter possuído qualquer traço ou característica que os inclua na raça negra, o que torna ainda mais estranho considerar um legítimo negro no meio dessa família. E nos faz pensar também que mesmo as características mouras de Ludwig tenham sido razoavelmente tênues, considerando a distância e a miscigenação, provavelmente mais sutis do que nossa imaginação constrói nesse momento, no qual discutimos justamente este ponto. 

Dito tudo isto, pode haver esse questionamento: por que tanto incômodo com um Beethoven negro?
Retrato de Beethoven, autoria anônima
Bem, se ele realmente tivesse sido negro, creio que não haveria um incômodo real, a não ser por parte de quem é realmente racista, mas essa é uma outra questão. O incômodo que tudo isso causa tem a ver com a deturpação da realidade. O que incomoda é a tentativa de imputar a uma personalidade características que ela não possuiu, com objetivos questionáveis, para reforçar uma causa ou simplesmente para criar uma teoria chocante. 

No primeiro caso, penso que absolutamente nenhuma causa séria precise desse tipo de deturpação histórica para se fortalecer ou legitimar. Tentar transformar Beethoven em negro é tão errado quanto tentar transformar Bach em homossexual ou Brahms em mulher. Os negros, os gays e as mulheres, mesmo lutando pelo fortalecimento de seus direitos em causas sólidas e válidas, não precisam dessas deturpações. Pois a raça negra é tão superior quanto qualquer outra, homossexualidade é tão normal quanto qualquer outra, e as mulheres são tão capazes quanto os homens. E se há conquistas sociais a serem alcançadas, se há injustiças históricas a serem corrigidas e direitos a serem conquistados, nada disso será conseguido com uma política baixa e enganosa como esta, de deturpar personagens históricos, sejam personalidades ou não. Se o objetivo for o segundo (e provavelmente é o caso aqui), criar e propagar uma teoria impactante a partir da deturpação da realidade é algo igualmente desprezível, e contra isso a ciência e a objetividade devem agir esmagadoramente. 



24 comentários:

  1. Beethoven era mestiço, e tinha uma pele amarelada que beirava o "morenismo".

    A minha explicação mas plausível;
    Beethoven era um gênio, e gênios já nascem gênios.
    Você já ouviu falar de Lombroso? Ele excreveu um livro sobre gênios e suas características, ele disse que gênios nascem fenótipicamente diferente de seus país e do arquetipo nacional, por exemplo nascer com cabelos e olhos escuros na Alemanha, sendo que seus pais são palidos e de olhos claros.
    Esse é um processo de mutação do alto intelecto ou do exepcionalismo do ser humano. A genialidade.

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    1. Lombroso? Realmente nunca ouvi falar. Pode passar alguma referência pra gente? Particularmente acho bem estranha essa ideia de que a "genialidade" intelectual venha acompanhada de uma diferenciação física. Beethoven seria um exemplo disso, mas tantos outros seriam exemplos contrários. Bach, por exemplo, era a própria figura do alemão. Voltando a Beethoven, que a pele dele era morena existem relatos pra apontar, mas não há nada em sua biografia que mostre que ele era mestiço. É exatamente por isso que escrevi esse post, e usei uma referência só para balizar um pouco mais o que já é claro na historiografia tradicional do compositor. Muito obrigado pela visita e pelo comentário!

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    2. Essa sua teoria é totalmente não científica e não existe nada em ciência que comprove isto. A genialidade não tem nada a ver com cracterística fenotípica e ainda não existem provas de que tenha alguma causa genética.

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  2. Olá mestre!

    Quanto tempo!

    Que bom ler postagens suas sobre os mitos que rondam nossos compositores favoritos!

    Adoraria ler textos seus sobres outros assuntos polêmicos:

    - o mito do triângulo amoroso de Clara Schumann, Robert Schumann e Brahms
    - As crises e as visitas de Mahler a Freud
    - A crise criativa do Sibelius após a 7ª sinfonia
    - A paixão de Rachmaninoff por carros e poker
    - As complicadas relações de Wagner com Liszt e Nietzche
    - O mito da relação conflituosa entre Bach e Carl Philip Emanuel Bach
    - Buxtehude, sua filha e seu possível casamento arranjado com Bach
    - A genialidade precoce de Mozart

    Como anda seu doutorado?

    Um grande abraço

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    1. Querido Davi, que surpresas boas, sua visita e seu comentário. Muito obrigado!
      Por aqui as coisas vão bem, precisávamos conversar com mais calma, quando puder mande notícias lá no mesmo e-mail de sempre, por favor.
      Pôxa, suas sugestões são incríveis, é material pra muita pesquisa e várias postagens. De cara eu só poderia arriscar um ou dois deles, o restante eu não domino nem um pouco, ou mesmo desconheço. Esse blog vai conforme o vento, mas prometo levar em conta essas sugestões, seria muito legal falar sobre qualquer um desses tópicos.
      Volte sempre! Um abração!

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  3. Realmente, um absurdo!!!! Assim como retratam Machado de Assis como se fosse branco.

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    1. De fato. A tal "lavagem branca" mencionada no post que eu critico de fato existe, e realmente o que fizeram com Machado é um exemplo dela. Tão errado quanto negar a pele negra de um, e sua própria origem negra, é querer atribuir a outro uma raça que não era a sua na tentativa de transformá-lo em um herói de uma causa. Obrigado pela visita!

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  4. Sobre as características físicas de Beethoven não há muito o que se comentar, além do que se sabe e que nos foi transmitido pela história. Diante da grandeza do gênio essas questões pouco significam, pois o que se especula sobre a cor da sua pele poderia ser explicado, segundo um dos comentários postados, pela possível influência da presença espanhola nos Países Baixos, região de origem da mãe de Beethoven. Ponto. O outro lado da discussão tem a ver mais com preconceito racial, do tipo que ainda persiste no mundo que se diz civilizado. Absurdo se falar em "branqueamento" da pele, como se isso melhorasse a cor da alma. A inteligência e a genialidade são atributos inerentes ao indivíduo, independentemente de características físicas. Se fuçarmos mais um pouco, chegaremos às origens branco-morenas de quase todos os povos mediterrâneos, miscigenados, de sangue fenício, grego, cartaginês, bérbere, ... Sem contar com os mouros e judeus que ocuparam a Península Ibérica, todos de pele morena. E quantos gênios podemos contar entre esses povos ? Picasso, Dante, Espinoza, Michelangelo, ... Inteligência brilhantes brotam em meio a qualquer raça. Entre nós há vérios exemplos de negros célebres, bastando lembrar alguns como o já citado Machado de Assis, José do Patrocínio, Padre José Maurício e o grande Aleijadinho.
    Que Beethovem era moreno, disso não há o que duvidar. Se tinha sangue espanhol, judeu, bérbere ou até negro, pouco importa.

    EGB
    edgombar@yahoo.com.br

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    1. De fato, caro(a) EGB, não importa realmente qual o sangue do mestre de Bonn, quais as misturas derivadas de sua árvore familiar. O post, entretanto, tem o propósito de combater um achismo fácil e sem substância, que tenta imputar a um personagem histórico uma prevalência negra que o mesmo não tinha, ou, ao menos, que nada nos leva a crer que ele tivesse. Se fosse o contrário, seria igualmente absurdo, na minha opinião. Realmente nossas origens são diversas e, talvez, até irrastreáveis, mas cada um de nós tem uma prevalência que acaba definindo nossa "raça" mais ampla, e é disso que tratamos aqui. Obrigado pelo comentário e pela visita!

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    2. Penso que sabe muito mais do que tem dito ate agora. Para lhe ajudar a entender mais sobre o branqueamento do negro e da civilizacao africana partilho consigo os sites: https://estahorareall.wordpress.com/2015/01/23/gerald-massey-livro-egipcio-dos-mortos-e-os-misterios-do-amenta/ e http://www.theosophical.ca/books/AncientEgyptTheLightOfTheWorld_GMassey.pdf

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    3. Bem, que a humanidade surgiu na África é algo aceito pela ciência, e nesse sentido somos todos (descendentes de) Africanos, obviamente. Mas hoje há uma diferença entre isso e ser pertencente a uma etnia específica, pois se levarmos esse pensamento à risca, não podemos considerar que existem diferenciações étnicas. E existem, como vemos todos os dias. Então não faz sentido. Nem chega a ser um argumento. Sim, somos todos descendentes de africanos. Não, não somos todos negros. Não, Beethoven não era negro. Simples. Forçar algo contra isso é conspiracionismo, tendencionismo ou ativismo de baixa qualidade.

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  5. Os brancos(albinos) sempre tiveram ódio de negros, engraçado que essas brancos hoje vivos saíram da barriga de uma pessoa negra. Caucasiano não quer dizer pálido, os dravidianos são negros e caucasianos, na Africa também e abundante negros caucasianos.

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    1. Caro(a) Anônimo(a), pouco posso dizer de mais aprofundado sobre o assunto de raças. Não domino as definições exatas, nem muito menos as exceções. Minha especialidade é música, por isso trato do assunto racial a partir dos lugares comuns, admito. Penso, porém, que isso não invalide o post ou a defesa que faço da necessidade de não imputar nada a pessoas reais do passado que não possa ser comprovado. Usei o termo "caucasiano" apelando à sua significação ampla, ou seja, aqueles que não são orientais nem negros, e penso que isso seja suficientemente aceitável para que o que foi dito no post continue fazendo sentido e sendo aceitável. Obrigado pela colocação e pela visita.

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  6. ��Anonimo acima, entendo seu ponto de vista. Você se referiu a exceções. Dravidiano tem pele negra, mas é caucasóide e não negróide. Quanto ao retrato do pai de Beethoven,posso dizer que o filho tem o nariz do pai. Para um fenótipo pronunciadamente caucasóide do tipo germânico e não latino puxado pro mouro, como é o do alemão típico, não miscigenado, Beethoven diferiu bastante,o pai um pouco menos.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Caro Efraim, obrigado pela visita e pelo comentário. E também por sua discordância, que me oferece a chance de me explicar melhor, já que talvez sua interpretação errada do que eu quis dizer seja fruto de meu próprio texto falho.

      Creio que a palavra-chave no trecho que você destacou seja "reforçar", e este termo aponta mais para uma ação a posteriori de/sobre uma causa já formada do que para a criação da mesma. Em nenhum momento eu tentei argumentar que a teoria do Beethoven negro foi criada por "um grupo ou sujeito" ligado a uma causa, e por isso mesmo não poderia me preocupar em apresentar provas sobre algo que eu não afirmei (embora eu entenda que existe margem para interpretar assim, por isso estou esclarecendo). Inclusive, o que você disse sobre os contemporâneos do compositor eu também disse no texto, já que, de fato, desde aquela época os germânicos tantas vezes se espantavam com a cor de pele e com a figura de Beethoven como um todo, e concordo que vem daí a essência do "roteiro" do boato do qual falamos, mesmo que ele não tenha surgido como tal naquele contexto (no texto eu falei sobre esses relatos dos contemporâneos servirem de base para argumentação para a teoria, que é o que constatamos lendo a postagem sobre ela). Nunca saberemos quem realmente configurou essa pseudo-teoria como a conhecemos hoje, e pode ter sido qualquer tipo de pessoa, branca, negra, miscigenada, oriental etc; é possível que até mesmo a intenção tenha sido outra que não a de criar uma teoria para uma causa (quem sabe se não foi apenas uma brincadeira, como tantos hoaxes contemporâneos são, e que as pessoas acabam levando a sério?). O que se pode afirmar, de fato, é que, posteriormente, utilizaram essa lorota para reforçar uma causa, e foi sobre isso que falei.

      Usando o termo "reforçar" eu quis, portanto, falar das pessoas que pretendem valorar uma causa ("reforçar uma causa") valendo-se desse tipo de recurso absolutamente barato e questionável, que é o de imputar características a personagens históricos que não as possuíram. E, no caso aqui tratado, facilmente entende-se que a utilização de tal artifício é algo que se pode conectar comumente a ativismos de baixa qualidade, de várias causas. Quantas vezes já não ouvimos falar por aí de teorias furadas que tentam convencer os incautos de que determinado personagem histórico foi na verdade do sexo oposto, ou com outra orientação sexual, ou outra etnia, nacionalidade, cor de pele, religião, viés político, ideologia...? Como disse no texto, penso que os grandes ativismos legítimos não precisam e não podem valer-se desse tipo de artifício, que só enfraquece causas legítimas e realmente importantes. Apenas isso.

      Isso explicado, creio que esteja mais claro que, em meu texto, eu não afirmei nada que pudesse dar origem a um novo boato, como você ilustrou em seu exemplo. E nem mesmo dei a entender isso, como uma leitura mais atenta pode comprovar. Se alguém quiser, um dia, imputar a mim a autoria de um boato polêmico e mascaradamente racista se valendo de meu texto, nada melhor do que o próprio texto para mostrar o que realmente eu quis dizer. E ainda esses anexos nos comentários, para ajudar a tirar qualquer dúvida que paire sobre isso.

      Espero que tenha conseguido clarear a questão.
      Grande abraço!

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  8. o cantor otis redding e james brown descende de beethoven.

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    1. O único comentário que me vem à mente é: não, ninguém descende de Beethoven, porque ele não teve filhos.

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  9. Ola, Hoje tenho 52 anos. Quando tinha 12 anos, portanto há muitos anos atrás, na década de 70 do século passado, quando não havia essa febre de politicamente correto em cima de questoes raciais, ganhei de minha mae de uma enciclopédia ilustrada. Eu que sempre gostei de biografias e de música clássica, me interessei, lógico, pela vida de Beethoven. Havia referência a esse aspecto físico do compositor, reforcando seu seu cabelo negro e a pele morena. Mas não notei nessa observação qualquer busca de "deturpação" ou tentativa de "reforçar" uma causa. Lógico, Beethoven sendo de origem flamenga, daí o "van" e nao o "von" em seu sobrenome, aventa a possibilidade de que o gênio tivesse realmente uma ancestralidade hispânica.
    Então, como dito antes, li isso há quarenta anos atrás, quando sequer se cogitava discursos inclusivos ou de acirrada disputa ideológica das chamadas minorias. Não foram as minorias, portanto, que trouxeram a baila essa curiosidade, mas o protrio registro histórico.

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    1. De fato que não. O que o lado obscuro do movimento racial (atenção: eu disse o lado "OBSCURO", ou seja, o lado que força a barra pra valorizar a causa) fez não foi simplesmente trazer à tona "curiosidades" sobre a aparência de Beethoven, mas sim interpretar fatos (pele morena) como indícios de uma raça específica que não aquela do compositor. Você fala em registro histórico, interessante, porque é exatamente o registro histórico que quis realçar aqui: segundo este Beethoven tinha sim pele mais morena que a média de seus conterrâneos, mas o registro histórico também nos diz da linhagem e da família, o que exclui a possibilidade de ele ser negro. Só isso. Desde que ele era vivo se prestou atenção ao diferencial de sua pele e, como disse no texto, já é centenária essa teoria (absurda) de que ele teria sido negro. De fato, fala-se disso desde muito antes de existir o "politicamente correto" e os ativismos sociais, incluindo suas facções obscuras, que são as únicas que me incomodam, como já disse exaustivamente no texto e nos comentários.

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  10. Um cara veio argumentar citando LOMBROSO... Francamente. Desisto.

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  11. Os contemporâneos o consideravam negro, ele tinha descendência hispânica, aí vem um merda tirado s intelectual e historiador. Desisto....

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    1. Ora, ora, se não temos alguém que, sem argumento algum, se coloca contra a historiografia ofical em toda sua arrogância. Desista sim, é o melhor. Afinal é simplesmente MENTIRA que seus contemporâneos o consideravam negro. Aqui lidamos com fatos, não com achismos de gente que nem mesmo sabe a diferença entre ascendência e descendência, e cujo melhor argumento é a palavra "merda".

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